Me apaixonei na internet, e agora? - SOM DO MEU TEMPO

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17.12.17

Me apaixonei na internet, e agora?

Me apaixonei na internet, e agora?




A internet, há anos, faz parte do cotidiano da sociedade e se tornou indispensável para a realização de atividades como estudo, trabalho e até mesmo contatos pessoais. A facilidade de interação entre as pessoas, rompeu com o padrão presencial. Com a facilidade dos sites e aplicativos, hoje em dia é muito fácil ver alguém – mesmo se essa pessoa estiver do outro lado do mundo. Basta um clique para ficar online e ‘perto’. Essa facilidade cooperou também para a difusão dos relacionamentos afetivos através do espaço virtual.

Esse fato foi explicado por um estudo americano, publicado na revista cientifica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), e realizado por especialistas das universidades americanas de Chicago e Harvard. O estudo revelou que casais que se formam no mundo digital podem ser mais felizes que aqueles que se conhecem por outros meios.

A pesquisa americana, baseada em uma consulta com 19.131 pessoas que subiram ao altar entre 2005 e 2012, mostrou que mais de um terço delas havia começado o namoro de maneira online. Segundo John Cacioppo, coordenador do trabalho, “foram encontradas evidências de uma mudança dramática desde o advento da internet na forma como as pessoas estão encontrando seus conjugues”.

Para a psicóloga Adriana Pereira, o fato de um relacionamento ‘dar certo’ pode ser uma realidade tanto para um relacionamento que durou apenas um ano e acabou, como para um casamento de 50 anos no qual não houve separação. “Neste caso, podemos falar de durabilidade e qualidade. Mas não creio que o meio pelo qual se conhece a pessoa possa definir se um relacionamento será duradouro ou não. A internet pode proporcionar que pessoas que nunca teriam a possibilidade de se conhecerem pessoalmente se conheçam através dela. A partir disso, o que vai fazer o relacionamento ser duradouro e construtivo para as duas pessoas, serão as afinidades, a disponibilidade de se relacionarem, de aceitarem as diferenças, os objetivos em comum… Enfim, uma espécie de agenciamento entre as duas pessoas, que, maduras para se entregarem ao outro, conseguirão realizar com sucesso”, aponta.


A gerente administrativa Raquel Zanetti Diniz, 29, conheceu seu marido, o Diego, através do aplicativo Badoo, próprio para relacionamentos. Ela conta que baixou o aplicativo em 2014 por curiosidade, já que virou febre no país todo e muitas pessoas estavam comentando sobre ele. “Hoje, quando converso com ele sobre isso, não chegamos à conclusão de quem foi falar com quem no Badoo. Mas, não gostei muito do aplicativo e nos adicionamos no Facebook, logo em seguida. Conversamos por duas semanas e eu fui até Uberaba (MG), há 400 km daqui, onde ele morava na época, apenas para nos conhecermos. O encontro deu certo e começamos a namorar no mesmo dia”, conta.

Após assumirem o relacionamento sério, Raquel e Diego tiveram uma prova ainda maior de que o amor resistiria à distância. Diego foi morar em Campina Grande (PA), dois mil km longe da namorada, que morava em Hortolândia. Para manter o namoro, conversavam diariamente por telefone e Skype e se viam, em média, uma vez por mês, quando Diego viajava para vê-la. Foram sete meses namorando à distância e o casal decidiu oficializar a união. “Em março desse ano ele veio morar em Campinas; foi quando decidimos nos casar. O casamento foi no mês passado, no Dia dos Namorados [12 de junho] e posso dizer que fui muito corajosa. O Diego foi o único que conheci no aplicativo e deu certo, mas muitas vezes não é assim. É preciso ter cuidado. Quando fui viajar para vê-lo deixei todos avisados, mandava minha localização o tempo todo para as pessoas e contava com quem eu estava”, lembra ela.

A vendedora Maristela Carvalho, 49, conheceu Carlos pelo bate papo do site UOL e estão casados há cinco anos. “Uma amiga me cadastrou no site e conheci o Carlos. Eu morava em Minas Gerais e ele em São Paulo, então após dois meses de bate papo online fui até São Paulo para nos conhecermos pessoalmente e conhecer a família dele. Em seguida ele foi para Minas conhecer a minha família também. Nos apaixonamos e creio que quando é do querer de Deus que um casal se una, Ele move formas para isso. E o nosso caso foi pela internet. Ficamos juntos à distância por quatro meses e casamos. Nós sempre nos sentimos seguros e confiantes com o outro. Foi meu primeiro relacionamento por internet. Sempre fomos maduros em nossa conduta e postura, com muita transparência e desejo de sermos felizes”, explica.

A psicóloga explica que, para um relacionamento à distância ser saudável, é primordial ter autoestima e autoconfiança. “Ciúmes, saudade e insegurança podem existir em um relacionamento de pessoas que vivem na mesma cidade, então eu diria que é necessária uma maturidade emocional para confiar no parceiro ou parceira. Muitas vezes é a insegurança do ciumento que causa brigas e não a infidelidade do outro. Quanto à saudade, o casal tem que criar sua própria maneira de diminuí-la, sendo através de mensagens, telefonemas e a própria internet. Então é preciso ter cumplicidade”, orienta.

Outro caso de casal que se formou a partir da internet, é o da revendedora Angélica Soares, 37, e Daniel. “Nós nos conhecemos em 2010 pelo site Par Perfeito, embora já morássemos na mesma cidade. Eu estava cansada de ir a baladas, e decidi que era hora de ter um relacionamento mais sério. Então, minha intenção era de conhecer alguém para namorar. Nesse site, na época, para ler o recado que a outra pessoa havia mandado, era preciso pagar um valor de R$ 80 mais ou menos, e nós dois pagamos para conversar. Antes de nos vermos pessoalmente, conheci a família toda dele, por internet mesmo, e ele conheceu a minha filha e a minha mãe. Nós namoramos 8 meses e decidimos morar juntos, e faz 4 anos e meio que somos casados”, diz.

Cuidados necessários

Embora existam milhares de histórias de amores virtuais que tiveram sucesso, o psicólogo Fabrício Maurício alerta de que nem sempre esse tipo de relação dá certo. “Não é possível perceber intenções do outro através de um contato virtual onde tudo é provável. Os mal intencionados, podem surgir com máscaras, se passando por gentis e corteses bem como podem ir direto ao ponto com uma agressividade que chega a agradar alguns em certos casos. É uma loteria. Infelizmente, nos dias de hoje, nem aqueles que estão ao nosso lado por uma vida são capazes de se revelar em sua essência, o que dizer então dos que não conhecemos e podem ter crescido e vivido em culturas e situações tão distintas das nossas?”, destaca. “O máximo que pode ser feito são investigações do passado e da história e relações do indivíduo nas redes sociais, o que, aliás, não garante muita coisa, haja vista as possibilidades de criação de perfis falsos que têm o poder de recriar e construir toda uma história fantasiosa da vida de qualquer um. Enfim, cada um pode ser mesmo quem quiser ser pela internet”, acrescenta ele.

A estudante Pamella Ferreira, 20, conheceu Pedro pelo Orkut, em 2011, e foi enganada por dois anos. “Eu tinha 15 anos, então para mim tudo era um conto de fadas. Conheci ele pelo Orkut e conversávamos o dia todo, literalmente. Eu morava em Itu e ele no Paraná, então eu sabia que seria difícil para a gente se ver logo, por causa da distância e também por conta da nossa idade, porque éramos muito novos. Mas eu sempre fui um pouco desconfiada, então pedi para nos vermos pela web cam e também para conversarmos mais pelo telefone”, lembra.

Segundo Pamella, o menino que aparecia na câmera era o mesmo das fotos e no telefone, tinha mesmo voz de adolescente de 16 anos. “Mas depois de dois anos surgiram oportunidades de nos vermos, eu iria viajar para lá e comentei de nos encontrarmos e ele sempre fugia do assunto. Então fiquei mais desconfiada ainda e, sinceramente, com medo. Foi quando descobri que, quem falava comigo pela internet na verdade era a irmã do Pedro, que aparecia nas fotos. O nome do irmão dela, de fato, era Pedro, mas ele era dois anos mais novo que eu. Quando descobri, liguei para ele e contei que já sabia a verdade e quis entender o porquê; o que, até hoje não descobri”, conta. “Mas, no fundo, me sinto sortuda por ter sido uma brincadeira de mal gosto e não um cara mais velho com más intenções. Se uma menina da minha idade conseguiu bolar todo esse plano, imagina um homem mais velho disposto a cometer alguma maldade. É preciso tomar muito cuidado ao conhecer alguém só por internet”, completa.

O psicólogo ainda diz que um relacionamento virtual pode ser bem-vindo para suprir carências afetivas, solidão e se o indivíduo vive, por exemplo, em uma situação de trabalho ou qualquer outra contingência que impõe limite ao contato real. “Outra questão de peso é o olhar. Quando não existe a troca direta e real de olhares, o indivíduo consegue se abrir com maior facilidade às reais emoções, o que pode ser interessante e permitir uma fala mais sincera e sem máscaras. Mas o contrário também é verdadeiro. Se você tem oportunidade de se relacionar de forma real, e insiste em buscar contatos virtuais, é importante se questionar sobre isso. Pode não ser benéfico quando começamos a trocar relações reais por relações virtuais. Viver em um palco onde você pode ser quem quiser ser, sem qualquer limite, não é exatamente um palco real da vida”, observa.

A psicóloga e docente de Psicologia da Saúde, Carine Sawtschenko, diz que é preciso tomar cuidado com os perfis falsos. “Façamos um exercício. Se essa pergunta não estivesse colocada no contexto dos relacionamentos virtuais, sua conotação seria outra. Fazemos esse tipo de questionamento ao estarmos diante de uma relação iniciada virtualmente – como se a tela do computador escondesse algo que não dominamos, porém, não existe algo de desconhecido no outro com o qual me relaciono pessoalmente? Ao nos relacionarmos com alguém, não vamos ao longo do tempo conhecendo essa pessoa? Porque pensar que no relacionamento virtual devemos estar atentos às pessoas de boas ou más intenções? Acredito que seja por duas razões: a primeira porque se relacionar através da rede mundial de computadores alimenta fantasias rudimentares, como do amor e da felicidade rápidos, líquidos; e segundo, pelo mau uso que uma parcela da população faz da internet”, comenta.

É importante ressaltar que não existe técnica ou regra para diferenciar boas ou más intenções, seja virtual ou pessoalmente.” Nos relacionamentos e na vida cotidiana, o que vale é o bom senso, a percepção e o sentimento em relação a algo vivido”, aponta a profissional.

Para que tudo ocorra bem e o ‘namoro’ virtual possa evoluir para o real sem grandes problemas, alguns cuidados são fundamentais, principalmente quanto à segurança:

– Tente sempre proteger ao máximo a sua identidade, como nome completo, endereço, e local de trabalho. Para contatos telefônicos informe somente o número do seu telefone celular. E, num processo inverso, tente obter o máximo possível de informações do outro.
– Faça muitos contatos com a pessoa, de preferência usando webcam, para evitar ter uma surpresa desagradável no primeiro encontro.
– Existem também pessoas casadas em sites de relacionamentos. Para fugir delas, teste-as, verificando se estão disponíveis para conversar em horários ‘críticos’, como à noite e nos finais de semana, por exemplo.
– O primeiro encontro deve ser marcado num local público, bem iluminado e movimentado. Nunca aceite carona da outra pessoa, nem na ida, nem na volta. E sempre deixe alguém avisado sobre o encontro e, de preferência, mande notícias, informando que tudo corre bem.

Por: Primella Leite

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